Entrevista ao DJ WILD


Por: Marta da Costa
Em momento algum pensei
“Quando for grande quero ser DJ”
-DJ WILD


Filipe Coutinho, conhecido pelo público como DJ Wild, é um pioneiro da música electrónica em Portugal e esteve à conversa connosco sobre o seu mais recente trabalho – Stronger Than Thunder -; sobre a sua experiência cinematográfica e sobre a situação atual da Música.

A entrevista pode ser lida na integra na próxima edição da ROR DE COISAS. Eis um excerto da conversa que tivemos.


Marta da Costa: Neste momento é DJ a full time. Como é que se chega a esse ponto?

Filipe Coutinho: Em momento algum pensei “Quando for grande quero ser DJ”. Sempre gostei muito de música e foi precisamente a fazer uma música com uma amiga minha que tudo surgiu. Eu não tinha forma de gravar a voz, por isso fomos a uma rádio. Lembro-me que um dos locutores gostou daquilo e perguntou se podia ficar com uma cópia para passar. Eu disse-lhe que sim, que até agradecia que o fizesse. E a verdade é que aquilo foi passando na rádio e a dada altura surgiu o convite numa discoteca para irmos lá dar um concerto. Só que entretanto a minha amiga, que ia só passar umas férias na Suíça, ligou-me a dizer que ia ficar por lá. Então tive de ir à discoteca cancelar. E foi nessa noite: fiquei na conversa com o patrão, ele começa a falar-me de música e de discos e disse “Pelo gosto que tens por música, davas um bom DJ”. E eu disse-lhe, acho que sem pensar muito no que estava a dizer, “Até gostava!”. 

Acabei na cabine e percebi que era mais complicado do que aquilo que achava. Saí de lá frustradíssimo porque não consegui fazer uma única mistura decente. Fui lá 3 noites consecutivas e à terceira ele sugeriu-me ficar lá como DJ residente. “Mas eu não percebo nada disto”, disse-lhe. Ele responde “Não percebes mas já vi que vais perceber”.
E foi assim. Nunca foi uma coisa que estivesse nos meus planos.





MC: Trabalhou durante vários anos em Chaves enquanto DJ. Como avalia a situação da “noite” flaviense?

FC: Na minha área, acho que toda a gente aposta no que é mais fácil. E isso mete-me muita confusão porque está mais que comprovado que a médio curto prazo isso dá para o torto. Eu não noto que haja falta de público. Por exemplo, eu não tenho nada contra quem ouve ou faz kizomba. O que me mete confusão é que uma casa que até tem uma escolha musical diferente, de repente começa a passar kizomba, reggaeton e música brasileira. É tu passares no bar A e estar a dar o Jajão, sais e vais ao bar B e está a dar Jajão. “É pa, estou farto de Jajão!”, pensas. Então vais ao bar C e está a dar Jajão! É isso que me mete confusão. Estão todos a trabalhar para o mesmo público alvo. Há pessoas que gostam de kizomba: ok. Mas há também pessoas que não gostam. 



Queixam-se que a noite está mal e não há gente, mas na verdade as pessoas não têm estimulo nem alternativa. Aqueles que não gostam ou não se identificam, simplesmente não saem. É frustrante. Isto não tem a ver com a crise. Isto tem a ver com as pessoas não se sentirem motivadas para saírem à noite.


MC: Para alguém que atravessou uma fase em que a tecnologia não era tão acessível como é hoje, incomoda-o a facilidade como atualmente alguém se assume como DJ?

FC: Não me incomoda porque só há duas hipóteses: 
ou tu tens talento, e não é pela tecnologia que vais lá; ou não tens talento e tens validade de iogurte. 





A tecnologia é algo que existe e as pessoas vão usa-la, mas há partes mágicas que desapareceram. Eu lembro-me de ir às lojas de CDs e estar à espera do CD que queria, e depois tirar o plástico e ver os créditos,... Isso é uma coisa que me entristece, saber que os miúdos hoje não passam por isso. E a maior parte deles nem compra, saca da Internet.

A revista ROR DE COISAS é lançada online já no próximo mês de Maio, onde consta a versão completa da entrevista a Filipe Coutinho.



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