
Por: Tânia Santos
Obra | Panificadora de Chaves
Arquiteto | Nadir Afonso
Projeto | 1962
Nadir, o arquiteto
Arquiteto | Nadir Afonso
Projeto | 1962
Nadir, o arquiteto
Os quadros das figuras geométricas envolvidas num jogo de cores conquistaram admiradores além fronteiras. Nadir Afonso, o pintor flaviense, nascido em 1920 e falecido em 2013, deixa saudades. Da autoria de Nadir resultaram obras autênticas que comovem qualquer observador e o seu sucesso, enquanto pintor, é reconhecido por todos nós. Contudo, muitos desconhecem que antes de se tornar pintor, Nadir foi arquiteto, após finalizar o curso de arquitetura, em 1948, na Escola de Belas Artes do Porto.
No campo da arquitetura, Nadir possui um percurso não menos invejável. Ainda antes de concluir o curso, o artista decide partir para Paris, onde vai colaborar com um dos mais reconhecidos arquitetos de sempre, o franco-suíço Le Corbusier. No entanto, a relação de Nadir com a Arquitetura foi sempre controversa, ao ponto do artista defender que a “Arquitetura não é uma Arte”, mas em contrapartida, “é uma Ciência que impõe limitações”.
No campo da arquitetura, Nadir possui um percurso não menos invejável. Ainda antes de concluir o curso, o artista decide partir para Paris, onde vai colaborar com um dos mais reconhecidos arquitetos de sempre, o franco-suíço Le Corbusier. No entanto, a relação de Nadir com a Arquitetura foi sempre controversa, ao ponto do artista defender que a “Arquitetura não é uma Arte”, mas em contrapartida, “é uma Ciência que impõe limitações”.
Em 1960, o arquiteto regressa a Chaves e é justamente neste período que vai projetar a maioria das suas obras arquitetónicas, designadamente a Panificador de Chaves, que será apresentada neste artigo.
Já no final da década de sessenta, Nadir começa a afastar-se da arquitetura para finalmente se dedicar à pintura. Apesar da sua incompatibilidade com a arquitetura, pode dizer-se que conhecimento adquirido enquanto arquiteto vai claramente influenciar a sua pintura, o que se torna patente pela sensibilidade que demonstra ao dispor as figuras geométricas nos quadros. Isto é, na sua pintura, Nadir toma as cidades como tema de representação, em que o espaço (a presença e a ausência) é o conceito fundamental, o que indiretamente denuncia a sua relação com a arquitetura.
A Panificadora de Chaves
Nadir Afonso foi contratado pelos dois principais padeiros de Chaves, João António César e José Teixeira de Sousa Chaves, para projetar um edifício onde estes pudessem fundir todos os seus estabelecimentos e empresas, dando assim origem à Panificadora de Chaves, Lda. O terreno de implantação foi estrategicamente escolhido, numa zona em desenvolvimento, junto à nova Avenida Nuno Álvares, então considerada a mais importante avenida da cidade. A construção da obra é finalizada em 1962 e, nesse mesmo ano, entra em funcionamento a panificadora.
A logística de funcionamento do edifício foi um aspeto determinante na resolução do projeto. Nesse sentido, Nadir posicionou o edifício numa das esquinas do terreno para facilitar o acesso e a distribuição dos vários serviços. A criativa distribuição do programa prova que todo o processo de fabrico do pão foi meticulosamente estudado pelo autor da obra. Na instalação dos equipamentos, nomeadamente dos fornos, Nadir apostou forte no avanço tecnológico, optando pelos mais eficientes então existentes no mercado europeu.
Todo o sentido inovador que utiliza para potenciar a vertente funcional do edificado, também se expressa no aspecto formal que o mesmo porta. Um complexo sistema de cobertura encerra um amplo espaço, suportado por um estrutura de betão armado e que se desenvolve num só piso. Parte da cobertura é desenhada por abóbadas inclinadas que, bem evidenciadas na fachada, contrastam com a ortogonalidade do resto do edifício. Da cobertura destacam-se também as altas torres que, além da razão funcional, conferem uma identidade ao objecto arquitetónico. A panificadora manifesta igualmente um carácter pitoresco com o jogo de cores que o arquiteto atribui a uma série de planos envidraçados.
A panificadora de Chaves, atualmente a cargo dos herdeiros de um dos proprietários originais do empreendimento, ainda se encontra em funcionamento. Ou seja, trata-se de um caso feliz em que são os próprios proprietários a valorizar o património arquitetónico que lhes pertence, evitando que o mesmo caia em estado de degradação. No passado chegou a ser sugerido aproveitar a panificadora como espaço para albergar a futura Fundação de Nadir Afonso (edificado entretanto construído junto à margem do Rio Tâmega), proposta que porém acabou por ser rejeitada pela Câmara Municipal. Esperemos só que, no futuro, este símbolo arquitetónico do século XX não caia em esquecimento e que as entidades colaborem na luta pela preservação do património da cidade.
Nota: Este artigo contou com a preciosa colaboração da flaviense Joana Meireles, estudante de arquitetura, em processo de conclusão da Tese de Mestrado que abrange o estudo da Panificadora de Chaves.
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