Ciclo Revoluções #8

Por: Cineclube de Chaves



Desde o início do Cinema que este foi considerado uma arte menor por atrair as massas. Tal feito impulsionou o cinema a nível mundial e despertou o interesse dos governantes e dirigentes estatais de diversas frentes e fontes políticas. Em igual proporção, o cinema que se fazia contra os regimes governamentais despertou o interesse da comunidade artística. O cinema era uma arma, tanto quanto uma propaganda. O cinema moldava mentes e, tanto uns, como outros, sabiam disso.

Durante os meses de Março e Abril, a tela do Cineclube de Chaves desvendou três filmes que mostram três realidades diferentes e três modos de como o cinema pode ser interpretado e usado. 


“Soy Cuba” (1964) é uma coprodução soviética e cubana que se perdeu ou, quiçá, terá sido propositadamente esquecida pelos dois países envolvidos na sua feitura. Historicamente, o filme é um exemplo daquilo que foram as relações diplomáticas entre Cuba e URSS, bem como um exemplo das consequências da Guerra-Fria e das suas negociações ou ameaças.



Ora vejamos: o filme foi negociado em 1961; em 1962 deu-se a crise dos misseis em Cuba, que resultou numa negociação fechada entre EUA e URSS. Deste modo, Cuba é deixada de fora o que irritou descaradamente os seus governantes. A partir daqui, as relações entre os dois países coprodutores estariam abaladas. Quando o filme foi rodado, já não se queriam os olhares dos russos sob as terras e pessoas cubanas – ainda que parte da equipa fosse constituída por cubanos. Chegamos ao dia da exibição publica e o filme é arrasado pela critica de ambos os países, ficando na penumbra do não reconhecimento até que Martin Scorcese e Francis Ford Coppola o resgatam para a luz da sagração nos anos 90.


“Soy Cuba” é uma das melhores obras cinematográficas de todos os tempos! Que restem poucas dúvidas quanto a isso. O seu valor artístico e cinematográfico são inegáveis, juntando a isso todo o seu interessantíssimo processo de produção e distribuição. 

O filme conta quatro diferentes histórias antes da revolução de Fidel e dos amigos. Quatro contextos diferentes de uma mesma Cuba que precisava dos seus heróis. Quatro histórias exequíveis e reconhecíveis da Cuba que era necessária salvar. Pelo menos, era isto que se queria dizer…






“Depois de Maio” (2012) é um filme ligeiro em comparação com “Soy Cuba”. É um filme que espelha os sentimentos revolucionários da geração do Maio de ‘68. No rescaldo das revoluções e manifestações estudantis e culturais que se fizeram sentir por toda a França e, depois, por toda a europa e mundo ocidental, um grupo de jovens, em 1971, tenta manter viva a chama do movimento e lutar pelos seus ideais.






O filme é um conto sobre a paixão pelas artes, pela vida e pela juventude. Para além de que questiona qualquer espetador sobre o cinema e para a sua posição numa revolução. Deverá ser o cinema revolucionário radicalmente outro? Deverá ser apresentado de outra forma? Assente numa outra gramática (aceitando que o cinema é uma linguagem)? Ou a mais realçada, poderá o cinema revolucionário seguir a linha estética e narrativa do cinema das salas comerciais? Depois destas questões iniciais, vem: se o cinema não seguir essas tais linhas mais comerciais, chegará à população e cumprirá a sua função?




“Isto Não É um Filme” (2011) desconstrói todo o conceito de filme e cinema que até então se conhecia. Um realizador preso na sua própria casa faz um filme que chega ao mundo inteiro. O seu conteúdo obriga-nos a refletir sobre o poder, sobre a crença, sobre as convicções e sobre o mundo global. No meio de uma ditadura e de uma situação menos favorável, é possível produzir cinema e produzir uma obra que reflita os conceitos mais humanos.



O filme chegou ao festival de Cannes através de uma pendrive escondida num bolo. Hoje, o cinema pede esconder-se num bolo. Hoje, o cinema pode tornar-se viral em segundos. O cinema pode começar uma revolução, não tenham dúvidas. O poder das imagens e das palavras é enorme, mas o poder da força e da vontade humana não tem igual, como em “Isto Não É um Filme”. Ainda que se não possa sair de casa, podemos fazer um filme – ainda que não seja um filme, segundo o título.

Sendo assim, às perguntas: Será o cinema uma arma? Será o artista um soldado? Poderá a divulgação e distribuição de um filme mudar o curso de um regime? Poderá uma imagem começar uma revolução? A resposta será sim.












Sem comentários :

Enviar um comentário