O que leva alguém a escrever um livro? A publicar algo tão íntimo como uma obra que reflecte e constitui a expressão de estados de alma e sintetiza a vida, experiências e vivências únicas e inalienáveis? A obra de Maria José Bernardo deve ser integrada na narrativa não ficcional pois é essencial e fundamentalmente o testemunho dolorido, o exorcizar de experiências traumatizantes que se reflectem no que escreve. Através de duas formas comunicacionais complementares - o testemunho narrativo e a poesia de cariz popular -, a autora conseguiu sublimar toda uma vivência eivada de momentos extraordinários e de outros menos bons, plenos de sofrimento e dor.
É óbvio que todas as obras sejam elas ficcionais ou não, reflectem quase fatalmente a forma de estar e a mundividência do seu autor. Os livros de Mª José fazem-no com uma dignidade e coragem que muitos poucos de nós teríamos para o partilhar… É a síntese frontal de alguém que, como cada um de nós, procura encontrar-se. Se por um lado, o livro – Caminhos de Mim - nasceu da necessidade que Mª José teve de analisar e exorcizar todos aqueles aspectos menos bons da sua vida para que se pudesse aceitar como pessoa e para que conseguisse tirar desses momentos as aprendizagens que as vivências lhe proporcionaram; por outro lado, transpor para o papel o que sentira e o que as memórias afectivas ainda preservavam foi a forma que encontrou de se dar a conhecer de uma maneira mais profunda e fundamentada. Já relativamente à colectânea poética, que de certa forma é o complemento do livro que escreveu, transparece uma leveza, uma alegria latente, uma brejeirice que cativa todos quantos a lêem.
“Não havia tempo para lamentações, nem tão pouco Dar aos filhos o carinho e o afecto que toda a criança precisa. Não o tiveram e por isso não sabiam dá-lo. A vida era difícil para todos: o tempo era pouco para o trabalho.” (pp. 41)
“Ser emigrante foi uma opção, mas também uma honra, receber o justo salário por um trabalho bem feito, apreciado pelos seus superiores, orgulho de ter contribuído para a modernização de uma grande Nação devastada pela guerra e as suas sevícias, por sentir o respeito e a boa apreciação de um chefe, devido ao bom desempenho profissional.” (pp. 109)
Ao propor-se partilhar os seus percursos de vida, através do livro Caminhos de Mim, a autora sente que é de suma importância ser aceite por todos os que de uma maneira ou de outra fazem parte do seu envolvimento enquanto pessoa e ser humano fantástico que é. Depois de ter sido confrontada com as suas fragilidades e competências, Maria José Bernardo sentiu uma necessidade física de procurar essa aceitação de que todos nós carecemos e por causa da qual lutamos e nos expomos. Por outro lado, há ainda um sentido didáctico neste livro. Para a autora é importante que os mais novos se apercebam até que ponto, as gerações anteriores foram incompreendidas e a forma cruel e dura como foram sacrificadas. Depois o livro encerra ainda uma homenagem ao emigrante, facto pelo qual se torna tão actual e pertinente.
“Eu sentia muito essa falta de carinho sobretudo quando depois de uma manhã inteira a sachar no campo, não tinham nem sequer uma palavra meiga para mim.” (pp. 41)
Por tudo o que referi anteriormente, Caminhos de Mim está muito para além da reflexão sobre uma vivência individual, ou seja, este livro é sobretudo o testemunho de uma geração que teve de lutar pela vida, que tal como a geração actual foi obrigada a partir em busca de oportunidades, de valorização, visto que o país onde essa geração nascera abandonara-a à sua sorte, negando-lhe valores essenciais, como liberdade, realização pessoal e emancipação. Logo, o seu valor social é inquestionável. Depois é também o testemunho de uma mulher que viveu no interior do país, subjugada a uma sociedade machista e repressora que considerava as mulheres meras máquinas de produzir sem, em momento algum, se preocupar com a sua felicidade e harmonia espiritual. Caminhos de Mim é também o testemunho dessa vivência muito mais frequente do que se pensa e consequentemente reflecte a revolta surda que conduz as pessoas a atitudes extremas.
“Os anos passam, o tempo segue com as histórias esbatidas num passado distante mas cujas reminiscências nos comovem ainda hoje. No desenrolar do filme da nossa vida notamos como ela tem sido repleta de rosas perfumadas, mas com espinhos também, semeadas no jardim da infância, ao sabor dos anos e murchando depois.” (pp. 13)
Finalmente, um apontamento relativo ao título do livro: Caminhos de Mim. Depois do que foi referido e abordado de forma sucinta, sou de opinião que mais nada há a acrescentar… Cada um de nós é, no seu percurso pela vida, confrontado por caminhos e encruzilhadas que ao optarmos e escolhermos nos levam a ser desta e não daquela forma. Também isso aconteceu com o livro de Mª José. Nele se revelam os vários caminhos que constituíram e constituem o seu percurso, como ser humano de excelência que é a autora. Por esse facto, a nossa gratidão. Por ter tido a coragem e frontalidade de partilhar connosco esses caminhos de forma simples, humilde e honesta, a nossa consideração.
“Eu sentia muito essa falta de carinho sobretudo quando depois de uma manhã inteira a sachar no campo, não tinham nem sequer uma palavra meiga para mim.” (pp. 41)
Por tudo o que referi anteriormente, Caminhos de Mim está muito para além da reflexão sobre uma vivência individual, ou seja, este livro é sobretudo o testemunho de uma geração que teve de lutar pela vida, que tal como a geração actual foi obrigada a partir em busca de oportunidades, de valorização, visto que o país onde essa geração nascera abandonara-a à sua sorte, negando-lhe valores essenciais, como liberdade, realização pessoal e emancipação. Logo, o seu valor social é inquestionável. Depois é também o testemunho de uma mulher que viveu no interior do país, subjugada a uma sociedade machista e repressora que considerava as mulheres meras máquinas de produzir sem, em momento algum, se preocupar com a sua felicidade e harmonia espiritual. Caminhos de Mim é também o testemunho dessa vivência muito mais frequente do que se pensa e consequentemente reflecte a revolta surda que conduz as pessoas a atitudes extremas.
“Os anos passam, o tempo segue com as histórias esbatidas num passado distante mas cujas reminiscências nos comovem ainda hoje. No desenrolar do filme da nossa vida notamos como ela tem sido repleta de rosas perfumadas, mas com espinhos também, semeadas no jardim da infância, ao sabor dos anos e murchando depois.” (pp. 13)
Finalmente, um apontamento relativo ao título do livro: Caminhos de Mim. Depois do que foi referido e abordado de forma sucinta, sou de opinião que mais nada há a acrescentar… Cada um de nós é, no seu percurso pela vida, confrontado por caminhos e encruzilhadas que ao optarmos e escolhermos nos levam a ser desta e não daquela forma. Também isso aconteceu com o livro de Mª José. Nele se revelam os vários caminhos que constituíram e constituem o seu percurso, como ser humano de excelência que é a autora. Por esse facto, a nossa gratidão. Por ter tido a coragem e frontalidade de partilhar connosco esses caminhos de forma simples, humilde e honesta, a nossa consideração.
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