Por: Rúben Sevivas
Festa, Trabalho e Pão em Grijó da Parada, 1973
Realizador: Manuel Costa e Silva
Argumento: Manuel Costa e Silva
Produção: Instituto de Tecnologia Educativa
Diretor de Produção: Miguel Cardoso
Fotografia: Manuel Costa e Silva
Montagem: Fernando Lopes e Helena Baptista
Diretor de Som: Francisco Rebelo
Duração: 35 min
Uma paisagem esconde-se por detrás de umas letras brancas e enormes, do tamanho da tela, que escrevem: Festa, Trabalho e Pão em Grijó da Parada. Assim que o título descortina a paisagem e deixa ao descoberto o caminho de terra batida que se perde no seio dos montes, ecoa a voz do narrador: “Os montes de Trás-os-Montes, uma estrada, um sulco de pó e pedra, que nos leva a Grijó de Parada, aldeia protegida pelos montes de Trás-os-Montes. Já irmãos da Espanha”. Está, portanto, introduzido geograficamente o local e a região que o filme retratará e o seu claro isolamento.
Manuel Costa e Silva teve a sua formação cinematográfica em Paris, estagiando com Jean Rouch. Tal experiência e formação terão sido importantes para o estilo de cinema que Costa e Silva produziu, principalmente no exemplo de Festa, Trabalho e Pão em Grijó da Parada. O cinema direto, defendido e explorado por Rouch, e as investigações no campo da antropologia visual, fortemente desenvolvidas nos anos sessenta em Portugal, influenciaram irrevogavelmente a obra do realizador.
O filme fala sobre a festa, o trabalho e o pão em Grijó da Parada. Tão simples quanto isto. Um dos primeiros olhares sobre Trás-os-Montes através do cinema. Um cinema que explorará e retratará, tão fiel quanto possível, a vida das suas gentes. Ainda que se discuta a objetividade de qualquer criação humana, o filme tem intenções de filmar e mostrar objetivamente a vida em Grijó da Parada.
A festa faz-se com as festividades do solstício de inverno, principalmente com a festa dos rapazes. Os caretos comandam a brincadeira e a população participa entusiasmada nas atividades. Não há quem fique indiferente. O trabalho faz-se com música. Todos a sabem. Elevam-se vozes que se pedem nos altos dos montes e o trabalho faz-se. Duro, pesado e penoso, é feito com o suor de todos. O Pão é a razão de todo o trabalho e aquele que, depois, dará a vida e a festa.
O filme tem, no geral, uma montagem ritmada que permite expor de melhor forma o passar do tempo e tudo o que se passa na aldeia. As cenas do trabalho são emparelhadas com as do quotidiano da população. Contudo, cenas como a da matança do porco e a do fazer do pão levam o seu tempo. A montagem não se mistura com planos de cenas alheias e as cenas são, geralmente, mais longas. Também nestas cenas, não há interferências sonoras. A sequência do pão, por exemplo, começa com a feitura da farinha ainda no moinho. Segue-se a peneira da farinha, o amassar da massa e o cozer do pão. Só depois de todos estes passos e de estar concluída a sequência é que o narrador se permite comentar. Vê-se um homem a comer pão e a beber vinho, ouve-se o narrador: “comer, um ritual grave, só na aparência vestido de simplicidade, de certo modo uma profanação, mas também um ato de respeito, os homens fazem o pão e por ele se fazem.”
De seguida, retorna-se à festa. Mais caretos, mais brincadeira, mais animação. Tanto pagã como cristã. Os caretos misturam-se com as festas religiosas. A gaita-de-foles ecoa, se está desafinada ou não pouco importa, e o som invade toda a aldeia por entre os montes. Há chegas de bois e chegas de homens. A montagem adquire um certo tom comparativo e reprovador nestas sequências. A montagem serve de narrador que julga e pensa as imagens das lutas e das rivalidades entre os homens. No fim, há mais caretos e mais brincadeira e mais festa. “Em Grijó da Parada, três dias de festa, retirados a 362 de trabalho, recompensa merecida. Amanhã, retiradas as máscaras, há que ganhar o pão em Grijó da Parada e, aqui no filme, não há pão sem trabalho e o trabalho sem festa não é digno dos homens.”, finaliza o narrador.
Realizador: Manuel Costa e Silva
Argumento: Manuel Costa e Silva
Produção: Instituto de Tecnologia Educativa
Diretor de Produção: Miguel Cardoso
Fotografia: Manuel Costa e Silva
Montagem: Fernando Lopes e Helena Baptista
Diretor de Som: Francisco Rebelo
Duração: 35 min
Uma paisagem esconde-se por detrás de umas letras brancas e enormes, do tamanho da tela, que escrevem: Festa, Trabalho e Pão em Grijó da Parada. Assim que o título descortina a paisagem e deixa ao descoberto o caminho de terra batida que se perde no seio dos montes, ecoa a voz do narrador: “Os montes de Trás-os-Montes, uma estrada, um sulco de pó e pedra, que nos leva a Grijó de Parada, aldeia protegida pelos montes de Trás-os-Montes. Já irmãos da Espanha”. Está, portanto, introduzido geograficamente o local e a região que o filme retratará e o seu claro isolamento.
Manuel Costa e Silva teve a sua formação cinematográfica em Paris, estagiando com Jean Rouch. Tal experiência e formação terão sido importantes para o estilo de cinema que Costa e Silva produziu, principalmente no exemplo de Festa, Trabalho e Pão em Grijó da Parada. O cinema direto, defendido e explorado por Rouch, e as investigações no campo da antropologia visual, fortemente desenvolvidas nos anos sessenta em Portugal, influenciaram irrevogavelmente a obra do realizador.
O filme fala sobre a festa, o trabalho e o pão em Grijó da Parada. Tão simples quanto isto. Um dos primeiros olhares sobre Trás-os-Montes através do cinema. Um cinema que explorará e retratará, tão fiel quanto possível, a vida das suas gentes. Ainda que se discuta a objetividade de qualquer criação humana, o filme tem intenções de filmar e mostrar objetivamente a vida em Grijó da Parada.
A festa faz-se com as festividades do solstício de inverno, principalmente com a festa dos rapazes. Os caretos comandam a brincadeira e a população participa entusiasmada nas atividades. Não há quem fique indiferente. O trabalho faz-se com música. Todos a sabem. Elevam-se vozes que se pedem nos altos dos montes e o trabalho faz-se. Duro, pesado e penoso, é feito com o suor de todos. O Pão é a razão de todo o trabalho e aquele que, depois, dará a vida e a festa.
O filme tem, no geral, uma montagem ritmada que permite expor de melhor forma o passar do tempo e tudo o que se passa na aldeia. As cenas do trabalho são emparelhadas com as do quotidiano da população. Contudo, cenas como a da matança do porco e a do fazer do pão levam o seu tempo. A montagem não se mistura com planos de cenas alheias e as cenas são, geralmente, mais longas. Também nestas cenas, não há interferências sonoras. A sequência do pão, por exemplo, começa com a feitura da farinha ainda no moinho. Segue-se a peneira da farinha, o amassar da massa e o cozer do pão. Só depois de todos estes passos e de estar concluída a sequência é que o narrador se permite comentar. Vê-se um homem a comer pão e a beber vinho, ouve-se o narrador: “comer, um ritual grave, só na aparência vestido de simplicidade, de certo modo uma profanação, mas também um ato de respeito, os homens fazem o pão e por ele se fazem.”
De seguida, retorna-se à festa. Mais caretos, mais brincadeira, mais animação. Tanto pagã como cristã. Os caretos misturam-se com as festas religiosas. A gaita-de-foles ecoa, se está desafinada ou não pouco importa, e o som invade toda a aldeia por entre os montes. Há chegas de bois e chegas de homens. A montagem adquire um certo tom comparativo e reprovador nestas sequências. A montagem serve de narrador que julga e pensa as imagens das lutas e das rivalidades entre os homens. No fim, há mais caretos e mais brincadeira e mais festa. “Em Grijó da Parada, três dias de festa, retirados a 362 de trabalho, recompensa merecida. Amanhã, retiradas as máscaras, há que ganhar o pão em Grijó da Parada e, aqui no filme, não há pão sem trabalho e o trabalho sem festa não é digno dos homens.”, finaliza o narrador.
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