Entrevista a Emanuel Teixeira #8


Por: Manuela Rainho

Emanuel Teixeira – Ema – é um jovem pintor de arte urbana que tem vindo a afirmar-se na panorâmica das artes plásticas da região. Provavelmente a merecer uma exposição individual da sua arte. Conheci-o num encontro de pintores que há alguns anos resolveram ocupar pacificamente com a sua arte a parte histórica da nossa cidade de Chaves.
A forma como aborda a figura feminina parece-me extraordinária, daí a curiosidade em entrevistá-lo e sobretudo em partilhar com os leitores a nossa conversa.


Manuela Rainho: Como definiria Emanuel Teixeira enquanto pessoa de cultura e das artes?

Ema: O meu percurso artístico não é um percurso normal. Apesar de no secundário ter passado pelo curso de artes, não segui estudos. Nessa altura tive um maior contacto com as artes através do professor Carneiro Rodrigues. Gostava imenso de trabalhar com ele e aprendi bastante. Como não continuei a estudar a minha carreira artística terminou ali, até a um dia em que tive, através da internet, contacto com um artista internacional. Então comecei a trabalhar novamente na onda da arte dele, do estilo dele, só que é uma arte que não é muito bem vista: arte urbana, arte de rua. Há quem considere que graffiti é arte, e quem considere sarrabiscos; para alguns não é criar mas é estragar. Essa dicotomia – é bom, é mau – limitou-me; então passei para uma outra forma de representação artística que é a que estou a seguir agora: pinto em telas. É essa a minha actual forma de expressão. O facto de ter passado a dedicar-me à pintura, mexeu um bocado com a minha vida. Saí de casa dos meus pais, senti-me mais independente mas simultaneamente a mudança de espaço levou-me a abandonar os pincéis e as tintas e a escolher novos materiais que estão ligados mais à arte da ilustração. Por isso, presentemente, estou num intermédio entre a pintura e a ilustração. A nível da criatividade, a fonte da minha inspiração é sem dúvida a figura humana e a mulher como ser. Ao pintar, pretendo transmitir um sentimento através da cor, da forma e dos padrões.




Manuela Rainho: Para si, o que representa pintar?

Ema: Para mim pintar é aquela maneira que consigo encontrar no imaginativo o sentimento. O que pretendo é que as pessoas olhem para o rosto de uma tela minha e captem um sentimento, uma expressão e que tudo à volta desse rosto pareça não existir mas simultaneamente se integre na figura representada. Pintar para mim é uma forma de criar. Às vezes custa começar uma obra ainda que tenha uma ideia em mente, mas nem sempre é fácil pegar nessa ideia e transmitir para a tela o que pretendo. Ao contrário de grande parte dos artistas, não faço projectos. A obra nasce através de formas, linhas, a base do trabalho; depois é espontâneo. Os meus trabalhos demoram muito a concretizar visto que são trabalhos de pormenor. Depois há um outro aspecto: há dias que não consigo tocar num trabalho, pois já tive más experiências com trabalhos que comecei e que evoluíram muito bem mas chega a um ponto em que há algo que me faz mudar completamente o rumo e fico impossibilitado de encaixar um percurso com o outro. Por isso, presentemente quando estou a elaborar um trabalho e estou a quarenta, cinquenta por cento da sua realização e tenho de parar, quando volto à obra passo o tempo que for preciso a olhar para o que já está feito e a analisar como abordar a obra nesta nova etapa. Sem este tempo de reflexão e meditação torna-se difícil retomar a criação da obra.

Manuela Rainho: Pinta para si ou para os outros?

Ema: Inicialmente comecei a pintar só para mim. Hoje em dia tenho de confessar que não posso pintar só para mim pois não consigo conciliar este tipo de técnica que adoro fazer com algo mais obscuro, não tão formal. Já que não consigo conciliar os dois mundos, prefiro optar por este, que amo e que desejo que seja aceite e quero fazer. Esta técnica é a forma que tenho de me expressar apesar de ter outros artistas como referências que analiso e pesquiso. De certa forma nessa busca chego à minha identidade artística.

Manuela Rainho: Considera-se um ser criativo? Como se desenvolve esse processo criativo?

Ema: Eu sou um ilustrador que não sabe desenhar. Na base dos meus trabalhos uso a linha, um esboço; não tenho linhas certas. A partir desse esboço escolho as linhas que mais se adequam à forma que pretendo; a partir daí recorro à geometria, isto é, separo em formas geométricas os planos que vou trabalhando a partir das cores e dos padrões. Essa envolvência da figura ou do rosto através das formas criadas pretende, a partir da identidade e do contraste, aprofundar a leitura da mensagem do trabalho a ser elaborado. A cor reflecte estados de espírito, sentimentos, emoções. Por isso, formas idênticas, padrões iguais transfiguram-se em algo novo através da cor.




Manuela Rainho: Pensa que existe uma identidade transmontana? De que forma ela se expressa na sua obra?

Ema: A minha identidade transmontana não está representada nos meus trabalhos. Mesmo nas cores que utilizo há muito pouco de transmontano. Nasci, cresci e vivi aqui. Gosto imenso de Trás-os-Montes. Tenciono ficar cá, mas a minha arte é uma arte que toda a gente, mesmo não sendo daqui pode avaliar condignamente. Ser daqui não me condiciona, pois as minhas telas são mais universais. Penso que os meus trabalhos não me caracterizam como alguém que nasceu na nossa região. Quem vir os meus trabalhos não vai vislumbrar se vivo em Chaves ou numa grande cidade do mundo. E de certa forma é isso que pretendo que aconteça. No entanto gostava de inserir algo nas minhas obras que espelhassem essa minha pertença a esta região. Possivelmente mais tarde, quem sabe?!


Manuela Rainho: Enquanto pessoa de cultura que vive na era da globalização, de que forma ser transmontano o condiciona e/ou integra?

Ema: Foi um pouco o que referi na questão anterior. Não me condiciona nem me integra. Os meus trabalhos têm uma vertente universal que não reflecte essa vertente regional; estão para além da identidade regional. Não gosto de me mostrar pessoalmente como artista; é a obra que deve brilhar por si. Claro que tenho os meus padrões e o meu estilo e é importante ligar esse estilo ao seu autor. Mas entre o homem transmontano e a obra não há linhas de identidade, há sim relativamente ao pintor enquanto ser humano. Mas gostava de um dia de conciliar o homem e o transmontano com o que crio.




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