Por: David Sarmento
De todas as aldeias do distrito de Vila Real, Sejirei é a que fica mais a Nordeste de todas, com Espanha a Norte, o rio Mente a Este, a serra de Trave a Sul e a estrada que lhe dá acesso a Este. Para lá chegar foram precisos trinta e oito quilómetros de passeio com a primeira paragem no castelo de Monforte. A robustez desta construção espanta qualquer um mas o forte são mesmo as vistas privilegiadas para a veiga de Chaves, as serras nevadas da vizinha Espanha ou a imponente serra do Larouco. O castelo em si está ao abandono, mas o parque de merendas que o serve vai atraindo gente nos dias mais quentes evitando, de certa forma, o seu esquecimento.
Acabado o mata-bicho, continuei num passo vagaroso dada a inclinação da serra do Brunheiro até dar com a pedra da Bolideira a sensivelmente oitocentos metros de altitude. Depois de balançada a pedra, retomei a pedalada virando à esquerda em direcção a Travancas, Argemil, São Vicente da Raia, Aveleda e finalmente Sejirei.
A altimetria do terreno não ajudou e as descidas e subidas pareciam autênticas paredes. Para descobrir Sejirei, naquele mar de montes, teria que pedalar mais uns vinte quilómetros Portugal adentro. O que me valeu foi uma paisagem montanhosa fantástica com direito a algumas cascatas.
À sombra da serra de Trave, com o ribeiro da cidadelha a passar-lhe nos pés, encontrei a aldeia de Sejirei, quieta e em silêncio não fosse o barulho constante de água a correr ali perto. O Inverno não será a melhor altura para a visitar mas sem dúvida que lhe confere uma atmosfera de lugar remoto e de refúgio. As casas, construídas com o xisto abundante na zona, transparecem a acção do tempo e do abandono, um êxodo gradual resultado, em parte, da sua localização geográfica mais isolada e do envelhecimento da população. A aldeia possui um forno público; mais acima na rua, encontra-se a capela de São Gonçalo de finais do século XVIII e ainda um moinho de água a um quilómetro do aglomerado de casas. Para além disso, como típica aldeia da raia, tem também uma rota do contrabando que já teve um ou dois passeios organizados pela eurocidade Chaves-Verín.
Para o final da viagem, e como última paragem antes do regresso, escolhi o melhor pouso para descansar de todas aquelas subidas e descidas, o verdadeiro destino desta curta viagem.
A uns passos da aldeia, a praia fluvial de Sejirei apresentava-se como um pequeno paraíso perdido no Portugal profundo. Como este, há muitos outros por descobrir como é o caso da ribeira de São Gonçalo situada ali tão perto, mais a jusante do rio Mente. Este lugar recôndito entre os montes, nasce do encontro do rio Mente com um dos seus afluentes, o ribeiro da Cidadelha ou ribeiro de Sejirei. Aqui nasce também uma água gaseificada e ferrosa semelhante às águas de Pedras Salgadas e Vidago mas, desconhecendo a razão para tal, a bica está permanentemente fechada. Como estamos no Inverno, os equipamentos como sanitários e bar de apoio estavam fechados e o rio exibia um caudal pujante galgando até parte das margens. É claro que nos meses de calor é calmo, de águas límpidas e baixas. Pelo menos é assim que me lembro dele da única vez que o visitei quando ainda era menino.
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