Viagens Na Minha Terra | A Ecovia do Tâmega #6


Por: David Sarmento




Com a constante ameaça de chuva e frio, decidi, desta vez, fazer uma viagem mais curta. Tão curta que a considero mais um passeio que viagem, mas nem por isso menos interessante e belo. A Ecovia do Tâmega, pelo seu valor natural e declive suave e acessível a todas as pessoas, pareceu-me uma escolha óbvia. Este percurso, fruto da parceria dos dois municípios e da Eurocidade, estende-se por mais ou menos dezoito quilómetros ao longo do Tâmega e une as cidades fronteiriças de Chaves e Verín. A ele estão associadas outras rotas como a Rota Termal e da Água da Eurocidade Chaves-Verín, a Rota de Observação de Aves, Rota das Águas Fluviais e da Galeria Ripícola e Rota das Lagoas e dos Areeiros. A ecovia em si ainda não está completa mas para lá caminha. De qualquer maneira, é possível fazer grande parte do trajecto da parte transmontana. A metade galega, está praticamente construída, as vias de comunicação estão estabelecidas, sinalética, pontos de descanso e alguma informação sobre a fauna e florado que estamos a ver.




O passeio começou em Chaves junto ao Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso projectado por Álvaro Siza Vieira. Daí pedalei a ciclovia existente e atravessei o rio na ponte/açude da galinheira. Neste ponto deparei-me com máquinas e trabalhadores que me deixaram continuar o passeio pela futura ecovia. A primeira paragem foi pouco depois quando dei de caras com um posto de observação de aves virado para uma belíssima paisagem: uma lagoa enorme, produto da exploração desenfreada de inertes destinados à construção há umas décadas atrás. Resolvi entrar na casota e esperar por alguma ave. Logo a seguir, aterrou uma cegonha num galho rasteiro à água, mesmo à minha frente! Achei aquela situação um golpe de sorte e, imediatamente, comecei a desenhá-la no meu caderno. Numa questão de segundos, voou para longe. Seria assim ao longo de todo o passeio nas várias lagoas ricas em vida animal. Desisti de desenhar garças, patos, cegonhas e outros pássaros igualmente vistosos, vendo que, ao mínimo sinal, levantavam voo.
 



A escassos metros da fronteira com a Galiza, os estradões e ruas da veiga de Chaves levaram-me ao açude – gloriosa praia fluvial do passado –, ora esquecida por muitos, ora lembrada por alguns. O potencial continua lá e com a ecovia a ser cozinhada, não tenho dúvidas de que este pequeno paraíso balnear possa regressar do seu adormecimento com uma força renovada.
 

Feitas as despedidas, deixei o açude para me dirigir à sede da Eurocidade: o antigo edifício da alfândega onde a ecovia da parte galega começa. A partir daqui segui a sinalização clara e desfrutei da paisagem com sucessivas lagoas, partilhando a via com ciclistas de ambas as nacionalidades e alguns agricultores. Continuei no meu passo lento e contemplativo até avistar o castelo de Monterrey, adjacente à cidade de Verín, anunciando o final do passeio. O castelo está em fase de recuperação e, para quem não conhece, vale a pena visitar. Chegado ao meu destino, fui directo à feira que estava a decorrer na Praça García Barbón e Praça de Alameda para almoçar e apreciar a azáfama que transpirava do mercado de rua.
 

Olhando para trás, facilmente se percebe que a Ecovia do Tâmega veio unir estas duas cidades fronteiriças de uma forma mais rica do que uma simples viagem de automóvel numa nacional como tantas outras. No fundo, o rio Tâmega, a montante de Chaves, adquire o carácter de um parque linear polivalente relacionando a educação e sensibilização para a protecção do meio ambiente com o lazer inerente a este corredor de vegetação ribeirinha.


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