Entre Aspas #3


Por: Manuela Rainho



«A necessidade de criar é a primeira manifestação do divino em ti
OSHO

Foi a curiosidade que me levou, no dia 1 de Abril, ao lançamento da colectânea poética Borboleta de Abryl, de Henriqueta Fernandes. Mas foi o interesse pela sua poesia que me cativou. Hoje, é a admiração pela autora que me leva a abordar a sua obra.
Talvez por o género lírico ser especialmente sedutor relativamente às minhas preferências literárias, por só raramente ter produzido textos poéticos, a Poesia sempre me transfigurou, me catapultou para um mundo fabuloso e admirável.

A poesia de Henriqueta Fernandes, para além daquela fluência e simplicidade dos grandes textos, transmite-me também a inquietação da alma da autora com quem me identifico ao abordar temas existenciais incontornáveis da nossa contemporaneidade.

Como refere OSHO, “a necessidade de criar é a primeira manifestação do divino em ti”. Esta manifestação é paradigmática na obra desta autora. Está presente em grande parte dos seus poemas - a busca do divino, o questionar da existência enquanto seres humanos. Por essa razão, a sua poesia é pertinente e remete para uma espiritualidade subjectivada nas temáticas que aborda: o Amor, a Morte, o Divino, a Mudança, a Efemeridade da vida… que sei mais!

Henriqueta Fernandes é realmente um Ser em busca da sua identidade. Na sua poesia verte essa mágoa, dor, sofrimento fruto de uma sensibilidade exacerbada mas lúcida e digna. Melhor que tudo quanto possa dizer sobre a sua poesia é ler, reflectir sobre o que a autora nos transmite com ela.

Os seus poemas são lapidares e permitem-nos vislumbrar a sua criatividade simples e excecional. A meu ver, a sua poesia é a manifestação de Deus no ser criativo que Henriqueta Fernandes foi. Dela, fica a sua obra que é e nos orienta nessa busca do divino. Por isso, a nossa gratidão.






«Estou cansada, tão cansada que o cansaço
 envolveu toda a minha alma num silêncio
feito de nada e onde não há espaço
para saber o que faço e o que penso;»
Cansaço, in Estranho Céu

«Somos qual obra de arte começada
por artista que morreu antes da idade
e não pode jamais ser acabada.»

«Nós somos o embrião civilizado,
nós somos circunstâncias, sociedade
o futuro de mãos dadas ao passado
Nós in Retalhos

«Tanto degrau tem a escada da vida que vivemos
agrupados em etapas que nós vamos escalando
alguns passos lentos, outros a viver corremos,
 e só fica em cada um, uma sombra se esfumando
Degraus in Retalhos


«Tantas formas de amor, um só jeito
o jeito especial daquele que ama
enorme o coração dentro do peito
no peito que é de sonho larga cama
(…) Tantas formas tem o amor, que eu não consigo
conta-las todas e sempre dou comigo
a contar uma, outras mais, constantemente.»
Amar in A outra face das Palavras

«Quem vem pousar em mim, quem me ilumina?
Quem pega em minhas mãos e vem escrever?
Que luz é esta… estranha, tão divina
Que faz do escuro meu, alvorecer?»
Quem in A outra face das Palavras

«Não sei se sou um ponto ou universo
se sou obra do acaso ou plano escrito
Se de Deus sou essência ou pó disperso
se sou princípio ou fim, ou infinito
P. 62 in Borboleta de Abryl.



«A minha dor não era esta, era diferente
esteve comigo no meu viver, em mil momentos
era visita, esta insiste em estar presente
ela tocava, esta destrói meus sentimentos
P.63 in Borboleta de Abryl.

«Quando eu morrer não me choreis que eu não morri
voei apenas para lugar mais levado
lembrai apenas o que de belo de vós vivi
e assim estarei aqui na Terra a vosso lado.»

P.74 in Borboleta de Abryl.



Sem comentários :

Enviar um comentário