No Dia em que a Cultura Morrer #3


Por: Diogo Martins Martins


Morre a ilusão

Acaba-se a ideia de que o que temos é eterno. De que o que fazemos dura para sempre.
De que no esquecimento há esforço, mas não há esforço para que não haja esquecimento.
Morre a ilusão da permanência. Permanência essa que julgamos só ter valor por ser permanente.

No dia em que a cultura morrer, e com ela levar a ilusão, os que a tentaram salvar morrerão de contentes.
Contentes porque sabem que a cultura estaria mais morta com a vida permanente do que com a evolução que é a morte. Há dignidade na morte. Na morte há mudança.

No dia em que a cultura morrer deixaremos de viver iludidos com o que é nosso e com o que é dos outros. Aprenderemos que não há pertenças, nem mesmo naquilo que julgamos pertencer-nos.  Que a única coisa que é realmente nossa é a ilusão de pertencermos a algo.
Nunca será nosso aquilo que somos porque somos pedaços uns dos outros. Nesse dia seremos verdadeiramente nós.



No dia em que a cultura morrer, morreremos todos nós a seguir, com a certeza de que só a cultura irá sobreviver para que com ela nos possamos reconstruir.
No dia em que nos julgarmos construídos, vai ser necessário a cultura morrer de novo.



Sem comentários :

Enviar um comentário