Por: Tânia Santos
Numa tarde de Verão decidi
revistar o buvette das Termas de
Chaves. Entrei, pedi um copo de água quente e sentei-me. Enquanto conversava
com amigas, observava o ambiente: deslumbrei-me novamente com o espaço e decidi
que esta obra era digna de ser divulgada.
O buvette, construído em 1952, encerra a fonte de águas termais,
sendo assim parte integrante do complexo das termas. Com uma cobertura em forma
de “cogumelo” assente em colunas, a estrutura em betão armado e de planta
circular, “vira costas” às pontes (Romana e Eng. Barbosa Carmona); pela sua
singularidade, nasce aqui um novo espaço nuclear da zona das Caldas.
Sempre me despertou imensa
atenção este pequeno edifício que julgo distinguir-se pelo carácter arrojado
que apresenta em relação às arquiteturas da envolvente. Mais intrigada fiquei
quando soube que a autoria da obra pertence ao arquiteto Januário Godinho (o
mesmo que nos anos cinquenta ficou responsável pelo projeto da escola industrial,
hoje conhecida por Escola Secundária Dr. Júlio Martins). Percorrendo o percurso
deste arquiteto, facilmente “saltará à vista” a diversidade de abordagens com
que nos presenteia.
Também pela feição
alternativa se destaca este buvette.
À semelhança do escultor que idealiza a sua obra, o arquiteto Januário Godinho
encarou a obra como um objecto escultórico. Curvas e rectas funcionam em
harmonia, caraterizando os muros que se desvinculam da envolvente. A disposição
desses muros encaminha o visitante até ao núcleo funcional do conjunto - a
fonte - situada a uma cota rebaixada. Como elemento de acesso, desenvolve-se
uma rampa sinuosa que acompanha a curvatura das paredes. Entrar no espaço
interior significa pisar um mundo novo, cujo cenário é valorizado por um jardim
que acompanha o percurso do visitante até ao patamar inferior.
A decoração é assumida como
estratégia de enriquecimento do projeto: “grelhas hexagonais, estrias na
cobertura, desenhos na calçada de calcário, azulejo, mosaico hidráulico, argamassa
com seixos”. Estamos de facto perante uma obra com uma extrema riqueza
decorativa (consegue ser bonita, sem ser excessiva) que só pode resultar da mão
de um artista com uma sensibilidade muito peculiar (considerando que os
arquitetos frequentemente minimizam os motivos decorativos - “less is more”). A
influência da arquitetura tropical brasileira está aqui bem evidente,
enfatizada tanto no tratamento plástico dos materiais, como no arranjo
paisagístico do interior. O buvette
das Termas de Chaves é de certo modo uma pequena riqueza da arquitetura moderna
portuguesa.
Convido então todos os
leitores a (re)visitarem esta obra que muitas vezes passa despercebida, mas que
tem o potencial de oferecer à nossa cidade romana a descontração de um ambiente
tropical.
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