Por: Eduardo Moreira
Ir para Cork foi aquilo que são, na minha opinião, quase todas as grandes decisões na vida: um misto de deliberação e intuição. Terminada a minha licenciatura em Produção e Tecnologias da Música na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (onde, de resto, tive uma formação de grande qualidade) , as questões mais lineares e comuns como “o que vou fazer” ou “onde vou fazer” aliaram-se a questões não tão superficiais como uma necessidade de reinvenção. Reinvenção a nível académico/profissional, intelectual e pessoal. Gostaria de mencionar que, não sendo propriamente um patriota por excelência, gosto muito do meu país e vejo nele um potencial enorme. Não escondo, no entanto, que a realidade portuguesa me deixara cansado a vários níveis, pelo que procurava uma forma de iniciar um novo tempo ligando-o a outro espaço. Após conversações com o Gabinete de Relações Internacionais da ESMAE, colocámos (eu e o colega com quem viria a fazer o programa de mobilidade) em perspectiva os potenciais locais onde poderíamos rumar. A Irlanda nem sequer era, em primeira instância, a hipótese mais plausível, mas as boas relações entre as duas instituições (ESMAE e Cork School of Music) facilitaram imenso o processo de comunicação. Juntada a deliberação a uma boa dose de intuição, embarcámos neste estágio ao abrigo do Programa Erasmus +, rumo a Cork City.
Não levou muito tempo até percebermos que muitos dos estereótipos se
dissolvem. Ao integrarmos a comunidade que nos acolheu percebemos que a
“frieza” a que muitos associam o Reino Unido e a Irlanda não pode ser
generalizada. Muito provavelmente as pessoas que encontrámos são mais
imediatamente espontâneas e comunicativas do que a média em Portugal. Acresce
ainda que Cork é cada vez mais um centro urbano multicultural e a ideia de que a
Europa pode ser toda ela uma “macro-cidade” fica bem patente.
No que diz respeito à nossa actividade propriamente dita, a primeira
diferença é, desde logo, o volume de trabalho a que fomos sendo sujeitos e as
oportunidades de aprendizagem com que fomos sendo confrontados. Os eventos
musicais sucedem-se e o suporte que lhes é dado em termos de audiência
justifica plenamente os meios existentes. Neste sentido importa referir que
tive a sorte de trabalhar em infraestruturas e com equipamentos de qualidade
superior diariamente o que, do ponto de vista do know-how, foi absolutamente decisivo na minha evolução enquanto
potencial profissional na área da produção musical.
Experiências
desta natureza reflectem a natureza das experiências que ansiamos ter no futuro
e mostram-nos que as zonas de conforto podem, em última análise, ser altamente
desconfortáveis. Estando todos estes parâmetros à mercê de uma análise quase
forçosamente subjectiva, o receio de sair não deve, por si só, constituir um
entrave a uma tentativa de mudança de paradigma relativamente drástica e o quão
drasticamente se muda de vida é um parâmetro sobejamente subestimado. A “zona de desconforto” pode ser altamente
produtiva e a variabilidade das situações que podem ocorrer acaba por tornar
esse “desconforto”, invariavelmente, numa rotina (ou na falta dela). Daqui
podem emergir numerosas apreciações e reações, de acordo com a natureza de cada
pessoa. Uns acabam por rejeitar a vulnerabilidade (sim, ela existe) inerente à
“saída”; outros abraçam-na quando a entendem como uma nova “entrada”.
“
Vulnerabilidade” é uma palavra-chave no contexto destas experiências pois, de facto, o grau de imprevisibilidade emerge e questionamos conceitos basilares até então dados como adquiridos, como por exemplo o simples ideal de “casa”. “Home is where the heart is” (casa é onde o coração está) é uma frase repetidamente usada entre aqueles que (aparentemente) a ela regressam. Não lhe retirando veracidade, facto é que para quem abraça estas experiências, o coração passa a estar em múltiplos lugares e o conceito de casa pode dissolver-se à frente dos nossos olhos. Se expandirmos esta ideia poderemos atingir um ponto em que o próprio Mundo poderá ser a derradeira casa e é, quanto a mim, a melhor de todas elas.
Vulnerabilidade” é uma palavra-chave no contexto destas experiências pois, de facto, o grau de imprevisibilidade emerge e questionamos conceitos basilares até então dados como adquiridos, como por exemplo o simples ideal de “casa”. “Home is where the heart is” (casa é onde o coração está) é uma frase repetidamente usada entre aqueles que (aparentemente) a ela regressam. Não lhe retirando veracidade, facto é que para quem abraça estas experiências, o coração passa a estar em múltiplos lugares e o conceito de casa pode dissolver-se à frente dos nossos olhos. Se expandirmos esta ideia poderemos atingir um ponto em que o próprio Mundo poderá ser a derradeira casa e é, quanto a mim, a melhor de todas elas.
Depois de umas férias em Portugal (sim, porque o coração também lá
está) regressei recentemente à Irlanda para começar o meu mestrado em Music Technology. É certo que agora “sei
para o que venho”; É certo que agora “conheço os lugares e as pessoas”. Mas
nada disso é certo onde e quando a mudança é a única coisa que não muda. Voei para
a Irlanda para refrescar a minha vida e só mais tarde me apercebi de que tinha,
em sua vez, ganhado uma nova.


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