A Astronomia ao Longo dos Tempos

Por: João Rodrigues


Em tempos passados, a astronomia consistia apenas na observação e previsão do movimento dos objectos celestes visíveis a olho nu. Algumas culturas ancestrais construíram artefactos de grandes dimensões que se pensam estarem associados à astronomia. Além de serem usados para usos cerimoniais, estes observatórios poderiam ser igualmente usados para determinar o decorrer das Estações do ano, factores cruciais às colheitas, etc. 

À medida que as civilizações foram crescendo, na Mesopotâmia, Grécia, Índia, China, Egito e América central começaram a ser construídos observatórios astronómicos e, com estes, foram surgindo novas teorias acerca da natureza do Universo. No início, a astronomia consistia basicamente no mapeamento da posição das estrelas e dos planetas (uma ciência agora referida como astrometria). Mas foram a partir dessas observações que começaram a ser discutidas as primeiras ideias acerca do movimento dos planetas, da natureza do Sol, da Lua e da Terra. Pensava-se que a Terra fosse o centro do Universo e que o Sol, a Lua e as estrelas giravam em torno dela. Formou-se assim o modelo geocêntrico do Universo, o sistema Ptolemaico. 

A introdução da matemática e da ciência na astronomia pelos Babilónios constituiu um momento particularmente importante para o seu desenvolvimento. Foram os Babilónios que descobriram que os eclipses lunares ocorrem de forma cíclica, ficando estes ciclos conhecidos por saros. 

Estes contribuíram grandemente na inclusão da astronomia nas tradições das grandes civilizações da Era Clássica. Seguindo os passos dos babilónios, os cidadãos da Grécia Antiga também se voltaram para a astronomia e contribuíram para o crescimento desta ciência. A astronomia grega é caracterizada pelo começo da procura de explicações físicas e racionais dos fenómenos celestes. No século III AC, Aristarcos de Samos estimou o tamanho da Lua e do Sol, bem como quanto estes astros distam da Terra, sendo o primeiro a propor um modelo heliocêntrico do Sistema Solar. No século II AC, Hiparcos descobriu a precessão, calculou o tamanho e a distância da Lua e inventou o astrolábio, o instrumento astronómico mais antigo que conhecemos. Da Civilização Grega provieram a maioria das constelações do hemisfério norte, e, recentemente, descobriu-se um sistema análogo a um computador - o mecanismo de Antikythera - desenhado para calcular a localização do Sol, da Lua e dos planetas para uma determinada data, tratando-se de um sistema cuja complexidade tecnológica só voltou a aparecer no século XIV, com o aparecimento dos relógios astronómicos, na Europa. 

Na Idade Média, a astronomia, tal como várias outras áreas do conhecimento, estagnou na Europa, pelo menos até ao século XIII. No entanto, a astronomia floresceu no mundo Islâmico e em outras partes do mundo. Isto levou à emergência dos primeiros observatórios astronómicos do mundo muçulmano, no início do século IX. Durante este período, muitos nomes árabes foram introduzidos na astronomia, nomeadamente nomes de estrelas. 

No final da Idade Média, a Igreja Católica Romana passou a suportar mais o estudo da astronomia, tanto social como financeiramente, do que qualquer outra instituição. Este patrocínio teve como objectivo a recuperação de informação que fora censurada até então, contribuindo para o surgimento do Iluminismo na Europa. 

Durante a Era do Renascimento, Nicolau Copérnico propôs um modelo heliocêntrico do Sistema Solar. O seu trabalho foi posteriormente defendido, aprofundado e corrigido por Galileu Galilei e por Johannes Kepler. Kepler fora o primeiro a desenvolver um sistema que escrevesse corretamente os detalhes do movimento dos planetas, com o Sol no centro. No entanto, Kepler não conseguiu formular uma teoria que sustentasse as leis que escrevera. Foi com dinâmica celeste e as leis da gravitação de Newton que se passou a poder explicar o movimento dos planetas. 

Foi nesta época que os astrónomos passaram a possuir um instrumento que revolucionou grandemente a sua ciência - o telescópio. Os primeiros telescópios a serem usados foram os refractores, nos Países Baixos, em 1608. Um ano mais tarde, Galileu começou a desenvolver o seu próprio telescópio, tendo contribuído para o melhoramento deste instrumento. Mais tarde, Newton também participou na evolução do telescópio, com a invenção do telescópio refletor. 

A partir daí, os avanços da Astronomia acompanharam paralelamente a evolução do telescópio. Lacaille contribui com catálogos de estrelas mais extensivos. William Herschel fez um catálogo mais detalhado de nebulosas e aglomerados de estrelas e, em 1781, descobriu o planeta Urano. Durante os séculos XVIII e XIX, a atenção de Euler, Clairaut e D’Alembert, voltada para o problema dos três corpos, levou a previsões mais detalhadas acerca do movimento da Lua e dos planetas. Este trabalho foi posteriormente refinado por Lagrange e Laplace, passando a ser possível estimar-se a massa dos planetas e das luas a partir das suas perturbações. 



A astronomia sofreu avanços significativos com a introdução de novas tecnologias, como a espetroscopia e a fotografia. A existência da galáxia onde se localiza a Terra, a Via Láctea, como um grupo separado de estrelas, só foi provada no século XX, juntamente com a existência de galáxias “externas”. Pouco tempo depois foi provada a expansão do Universo. 

A Astronomia moderna levou à descoberta de muitos corpos celestes exóticos, como quasares, pulsares, blazares e rádio galáxias, bem como teorias que vieram a descrever outros corpos celestes, como os buracos negros e as estrelas de neutrões. A Cosmologia física permitiu o surgimento de grandes avanços científicos, também no século XX, nomeadamente o modelo do Big Bang, fortemente suportado por evidências fornecidas pela Astronomia e pela Física, como a radiação cósmica de fundo de microondas e a lei de Hubble. 

Ainda no século XX, a invenção de telescópios que permitem observar para além do visível pelo olho humano - radiotelescópios, telescópios de raios-X, telescópios de raios-Gama, telescópios de infravermelhos, etc. - levou ao desenvolvimento de diversas variantes da Astronomia, cada uma especializada para uma determinada região do espetro eletromagnético. Os telescópios espaciais reforçaram esta expansão da Astronomia, pois agora podemos fazer medições de radiações que são bloqueadas ou sofrem interferências pela atmosfera da Terra.


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Nasceu a 1993 em Chaves, Vila Real. Licenciado em Bioquímica pela FCUP é actualmente estudante do mestrado em Biologia Celular e Molecular da FCUP realizando a sua tese de mestrado no IBMC:INEB Associate Laboratories, no departamento de Bioengineering and Synthetic Microbiology. Parte da equipa do FCiências para o qual é responsável pelas rubricas ‘Vídeo em Destaque’, ‘Molécula da Semana’ e ‘Laboratório Online’.



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