Na Rádio, um País

Por: Pedro Pinheiro
Foi uma viagem pelo país que não sai da boca dos políticos.
Sempre nas palavras, não tantas vezes nas acções...
Partimos com a Rádio ao encontro de um Interior esquecido.
E com ela, um desafio em tempo de campanha eleitoral.
Mostrar que esse território tem rosto, tem rostos...
Mostrar o que lá se faz, todos os dias, e por muito que julguemos que não.
Sem pré-conceitos, levamos connosco duas perguntas:
- O que vos prende à terra onde vivem?
- O que faz com que não percam o sentido de pertença?
Desmontada a tenda, haverá três conclusões essenciais.


Primeira.

A recusa de um discurso miserabilista.
“Nós não somos os coitadinhos”, disseram-nos.
Nesse país, não se reclama um tratamento diferenciado.
Exige-se, tão só, uma relação de igualdade.


Segunda.

É verdade que, por lá, morre-se mais do que se nasce.
Mas há jovens.
Muitos. Empenhados. Dinâmicos.
E que não querem partir.
Mesmo, confessaram alguns, quando se sentem empurrados para tal.



Terceira.

A paisagem muda, os sotaques são outros, as tradições também.
Há todavia um padrão quando se percorre a estrada nacional 2.
Nesse eixo que rasga o país ao meio, são muitas as identidades.


Afinal:

- O que distingue o trabalho que se faz na “INDIEROR”, em Chaves, daquele que se desenvolve a “I Create”, em Vila Nova de Poiares? Ou o da Palha Abrantes? 
- E que se faz no Conservatório de Música e Artes no Dão? É assim tão diferente daquele que se materializa na Escola de Música da Orquestra Ligeira de Ponte de Sor? Ou na centenária filarmónica de Magueija?
- E o guardador de memórias Floripo Salvador? Ou o Ti Chico Calhar? Ou o Mário Fagulha? Ou o Macarinho? Ou o mestre José Ameixinha? Não será possível traçar um paralelo entre eles, unindo Vidago a Mora? De lá a Tondela? Depois ao Torrão e a Almodôvar?
- E aquilo que apaixonou o norte-americano John McAdam quando conheceu a serra de Montemuro? Será assim tão distinto daquilo que encantou a holandesa Evelyn Sakkers quando chegou a São Brás de Alportel?
- E entre a taberna do João das Cabeças, em Castro Verde? A livraria Traga-Mundos, em Vila Real? Ou a garagem onde ensaiam “As Escouralenses”? No que lá se faz? Não haverá partilha de um mesmo desígnio?

Na tenda da Rádio, esse País terá dito que sim.



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46 anos, natural de Vila do Conde e jornalista há 25 anos. Passou pela Ràdio Nova, pela revista Focus e é actualmente subdirector da TSF. Foi um dos três aventureiros que percorreram a estrada nacional nº. 2 em tempo de eleições e questionaram todos os que encontravam neste interior do nosso país. Pedro Pinheiro é uma das mais emblemáticas vozes da rádio da actualidade, e conta-nos o que foi para ele percorrer esta estrada.



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