Por: Manuela Rainho
Desde sempre a poesia anda aliada a estados de alma, à expressão de mundividências pessoais de quem a escreve. Maria Eugénia Branco Teixeira é, nessa vertente, uma poetisa como qualquer outro poeta. No entanto, o universo que partilha com quem lê a sua obra é único e intransmissível; reflecte uma visão do mundo muito especial que integra a sua personalidade enquanto pessoa e mulher.
Da leitura que fiz da sua obra há um conjunto de temáticas que aborda e de que seleccionei apenas três por serem as que mais reiteradamente surgem nas suas colectâneas poéticas. Embora duas delas tenham a ver com a forma como o mundo exterior condiciona os seus estados de alma – refiro-me mais concretamente ao Espaço de eleição da autora, a cidade de Chaves, e ao Tempo, nas vertentes várias, tais como a efemeridade da vida, a mudança, conceitos como passado, presente, futuro – a terceira prende-se com a Poesia. Poesia, enquanto inspiração, catalisador, expressão.
No entanto, para além das abordagens de leitura que possa fazer a partir da minha leitura da obra de Maria Eugénia Branco Teixeira, nada como citar a autora para legitimar o que for referindo. Assim sendo, começarei pelo tema do espaço. A cidade de Chaves é esse espaço de eleição presente em toda a sua obra poética. A colectânea “Canto do Meu Canto” enquanto jogo de homonímia do vocábulo “canto”, remete-nos para uma viagem emocional através de sonetos que Maria Eugénia dedica à cidade de Chaves, espaço de eleição e afeição privilegiado pela poetisa. Todavia essa mesma atracção pela cidade de Chaves é evidente em outros poemas que traduzem esse jogo de pertença e identidade, como por exemplo Chaves
( «(…) Tens tudo: termas, rio, veiga, serras, / Riqueza em barro, ponte de Trajano, / Monumentos que falam de outras eras.» (…) in pp 10 “Mágoas Feiticeiras”) Ser Flaviense ( «(…) É lutar por um sonho com nobreza / É quem mandar para cá do Marão. (…) É ter a alma de um tamanho tal/Que caiba nela inteiro Portugal.(…)» in pp 54 “Mágoas Feiticeiras”).
Abordemos agora o conceito de Tempo que para a poetisa em análise, reveste uma importância inequívoca na sua poesia. Dado que o espaço de que disponho é restrito, seleccionei três poemas que passo a transcrever: Incompleto («Saí de mim, andei por aí fora / Entregue livremente à evasão / Num sonho consentido que demora / Só o tempo que dura uma ilusão.» in pp 7 “Nascentes de Silêncio”); Drama («Lentamente, / Passo a passo / Como alguém que anda sem andar / O tempo vai passando junto de nós // De repente /Embaraço / Como quem pára sem parar / Notam os netos que já são avós» in pp17 “Folhas Vazias”); («Depois da noite / O dia / Depois da morte / A vida / depois do nada / Tudo // Depois de ti / Ninguém» in pp 44 “Migalhas Divinais”).
Finalmente, debrucemo-nos sobre a temática mais dolorosa da poetisa: A Poesia. Do que se depreende da leitura da sua obra há uma dicotomia que se debate entre a dependência de escrever e o constatar o quanto essa dependência é viciante e escravizante. Eis alguns excertos da sua poesia que o comprovam, Musa («(…) É minha sina senti-la tão perto, / É um calvário não a possuir / Sofrer a mágoa de vê-la passar // Na rota certa dum lugar incerto. / (…)» in pp 40; (« (…) Busca incessante, sede de infinito, / Enlevo em que mergulho em que me agito, / Febre escaldante, sonho de poeta! (…)» in pp 64 “Nascentes de Silêncio”). Calíope («Persigo esse verso que não vem, / Ou vem em fragmentos que não quero, / Palavras soltas com que desespero / Nesta inquietude que minha alma tem.» in pp 15 “Pedras Baloiçantes”).
Provavelmente a escolha que fiz não seria a que o leitor faria… Mas esta minha opção pretende apenas incentivar o leitor, desafiá-lo a ler os autores que reflectem a identidade de ser transmontano, nada mais.
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