O Misticismo de Uma Terra Prometida #6


Por: Rúben Sevivas

VEREDAS - 1977

Realizador – João César Monteiro
Assistente de Realização – Margarida Gil
Director de Produção – Henrique Espírito Santo
Fotografia – Acácio de Almeida

Efeitos Especiais – Luís de Castro
Iluminação – Emílio Castro (chefe), Carlos Alberto e Carlos Fernandes
Director de Som – João Diogo
Montagem – João César Monteiro
Formato – 35 mm cor 35mm
Duração – 121’

João César Monteiro é um peregrino. Portugal oferece os caminhos a serem percorridos e o espírito estético e intelectual de César Monteiro exploram-nos ousadamente.



Veredas é um filme construído por belas paisagens, belos enquadramentos e belos textos que fragmentam um filme poeticamente formal. O poder da imagem é o mais importante. Não me parece que o próprio filme saiba o seu caminho. O importante é a viagem e as veredas percorridas. No final existirá um renascer. Uma purificação do ser. 

O filme é um retorno às origens, à autenticidade, à terra e às tradições orais, onde se valoriza o povo e a cultura popular em relação à cidade e à cultura citadina. As cenas são compostas por situações documentais da vida na terra – invadidos por momentos fantásticos, saídos de lendas e contos -, tal como o de Branca-Flor. Estes momentos fazem com que os aldeões comentem tais assuntos e até profiram palavras que parecem demasiado artificiais para terem sido ditas por eles. 



João César Monteiro parece recorrer ao mais remoto e ancestral que existe em Portugal para desmistificar a sua preocupação interna: a sua viagem interior. Sendo assim filma Trás-os-Montes. Uma terra esquecida, idílica e coberta de misticismos e mitos ainda vivos, para conseguir transmitir o seu próprio interior povoado de seduções e de fantasias. 






Filmam-se as pessoas, as músicas e os montes de modo a transparecer a ancestralidade do percurso de Veredas. A este, juntam-se enquadramentos fantásticos e mitológicos que transportam tal realidade para um interior muito pessoal: o de João César Monteiro. Acredito que tal recurso seja demasiado rebuscado e que à primeira vista o filme soe a uma combinação entre a intelectualidade de César Monteiro e o popular Português. 


O filme não é exclusivamente filmado em Trás-os-Montes, mas é de onde parte para conseguir estabelecer um maior distanciamento face ao que é apresentado no filme e ao que existe na vida quotidiana. O filme é fantástico, não nos esqueçamos. Recorre a metáforas e a imagens que nos transferem em tempo e em espaço. 

Trás-os-Montes é belo! Trás-os-Montes é o lugar mítico onde os contos fantásticos têm lugar e onde as mais belas ninfas se vêm banhar.



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