Pare, Escute, Olhe (2009)
Argumento - Jorge Pelicano; Rosa Teixeira Silva
Assistente de Produção - João Pelicano
Fotografia - Jorge Pelicano
Mistura de Som - Miguel Lima
Montagem - Jorge Pelicano
Música - Manuel Faria; Francisco Faria
Produção - SIC - Sociedade Independente de Comunicação
Produtor - Jorge Pelicano
Realização - Jorge Pelicano
Som - Jorge Pelicano
“Em nome de um povo esquecido”, é com estas palavras em fundo negro que se inicia o filme Pare, Escute, Olhe (2009) de Jorge Pelicano; e com esta pequena frase, envolta em luto, se estabelece o tom de todo o documentário.
Para, Escute, Olhe é um filme sobre quem fica; sobre os que resistem numa região cada vez mais esquecida; sobre os que realmente têm de lidar com as decisões políticas e governamentais estabelecidas a centenas de quilómetros de distância. Pare, Escute, Olhe é um filme sobre pessoas!
Quando se ouve falar no documentário, premiado em diversos festivais, incluindo o Doclisboa (talvez o festival que melhor tenha entendido a situação retratada), pensa-se na linha do Tua e na sua degradação e desaparição. Contudo, Jorge Pelicano, repórter de imagem da SIC e realizador do anterior Ainda Há Pastores? e do mais recente Pára-me de Repente o Pensamento, decide focar-se nas incongruências políticas, nas causas das suas decisões e naqueles que por elas são afetados. Em Pare, Escute, Olhe, os políticos são intervenientes assíduos e frequentes. Algo raro no documentário nacional. Os seus discursos são mostrados a par com as imagens captadas em Trás-os-Montes.
Sendo assim, Pare, Escute, Olhe tem um sentido político muito forte. Não no sentido partidário e clubístico do termo, mas sim no seu sentido literal. O propósito do filme é ser interventivo e espelhar uma situação que precisa de ser discutida. Distingue-se da escola portuguesa de cinema por não representar a poética que cineastas usaram ao retratar Trás-os-Montes. Talvez a formação jornalística de Jorge Pelicano seja aqui um ponto-chave para entender as suas intenções. Contudo, tal não invalida o seu contributo artístico nem cinematográfico. Muito pelo contrário! Pare, Escute, Olhe tem a mesma função que muitos outros documentários e filmes filmados em Trás-os-Montes, que é retratar o esquecimento de um povo que vive limitado geográfica e politicamente. Todavia, usa uma outra forma de o fazer.
É um filme que vive do poder da montagem e de todas as suas especificidades e potencialidades. É um filme com valores cinematográficos garantidos por prémios nacionais e internacionais. É, também, um filme que desponta raiva e desconforto a quem o assiste.
Sendo assim, Pare, Escute, Olhe tem um sentido político muito forte. Não no sentido partidário e clubístico do termo, mas sim no seu sentido literal. O propósito do filme é ser interventivo e espelhar uma situação que precisa de ser discutida. Distingue-se da escola portuguesa de cinema por não representar a poética que cineastas usaram ao retratar Trás-os-Montes. Talvez a formação jornalística de Jorge Pelicano seja aqui um ponto-chave para entender as suas intenções. Contudo, tal não invalida o seu contributo artístico nem cinematográfico. Muito pelo contrário! Pare, Escute, Olhe tem a mesma função que muitos outros documentários e filmes filmados em Trás-os-Montes, que é retratar o esquecimento de um povo que vive limitado geográfica e politicamente. Todavia, usa uma outra forma de o fazer.
É um filme que vive do poder da montagem e de todas as suas especificidades e potencialidades. É um filme com valores cinematográficos garantidos por prémios nacionais e internacionais. É, também, um filme que desponta raiva e desconforto a quem o assiste.
Ora bem, o filme começa com uma montagem inteligentíssima com depoimentos e imagens de arquivo de vários dirigentes políticos sobre a Linha do Tua e a região em que esta está inserida, desde Mário Soares a Cavaco Silva. São discursos deveras inspiradores e reconfortantes para os que para cá do Marão habitam, contudo, sabe-se que é conversa fiada e que não passa de paleio político. Se alguma dúvida restar, no decorrer do filme será desfeita. Seria bom assistir a este documentário com um dos políticos intervenientes no filme! Assim, poderiam relembrar-se do que defenderam nos seus discursos, mas que assassinaram nas suas ações.
Também é preciso destacar, neste contexto dos depoimentos políticos, que a montagem do filme é assertiva, comovente e irónica, fortemente irónica. Por exemplo, vemos o deputado eleito pelo distrito de Bragança na Assembleia da República; este atende uma chamada e, do outro lado, fala uma senhora idosa que precisa de um favor: que lhe tragam os medicamentos porque já não tem o metro para os ir buscar.
Também é preciso destacar, neste contexto dos depoimentos políticos, que a montagem do filme é assertiva, comovente e irónica, fortemente irónica. Por exemplo, vemos o deputado eleito pelo distrito de Bragança na Assembleia da República; este atende uma chamada e, do outro lado, fala uma senhora idosa que precisa de um favor: que lhe tragam os medicamentos porque já não tem o metro para os ir buscar.
Mas o filme é também sobre as outras pessoas. Aquelas que resistem no rigor dos montes. Essas indignam-se, ainda que se ache que não; essas gritam, ainda que os seus berros sejam abafados; essas revoltam-se, ainda que o seu punho seja cortado; essas emigram… porque o seu país lhes vira as costas. E há ainda aqueles que não emigram, mas que “ficam sentados à lareira, esperando pela morte”, pois, derrotados, nada podem fazer.
Pare, Escute, Olhe é um filme obrigatório para todo o cidadão português! É revoltante a forma como os sucessivos governos reivindicam interesses económicos e esquecem os valores humanos. O interior não foi sentenciado pelos que lá vivem ou pelos que de lá se viram obrigados a não viver, mas sim pelos sucessivos governantes que, lavando o sangue de incontáveis mortes, continuam a fechar linhas de comboio porque não há passageiros; continuam a fechar escolas porque não nascem crianças; continuam a fechar hospitais, centros de saúde e serviços de saúde, porque não há população suficiente que os justifique; e continuam a prezar o valor económico da vida humana, quando tanto cidadão português é o lisboeta como o flaviense, tanto vale a vida de um portuense como a de um eborense. Mas aparentemente tudo isto é uma utopia. E desde que me lembro que o ciclo é vicioso e que quanto mais se tirar, mais se perderá. Por isso, na reflexão de Jorge Pelicano, peço a todos os leitores deste texto, ou aos espetadores do filme, que parem, que escutem e que olhem!
É hora!
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