Por: Paulo Coimbra
Século VII. O que restava do pensamento científico grego estava ainda largamente difuso no Médio Oriente. Embora sem produção de obras originais, estava contudo subjacente nas tradições, noutras culturas e noutras ciências. Portanto, sob um manto geral de indigência cultural havia o substrato legado pela ciência grega.
É nestas condições que chegam os Árabes. Ao mesmo tempo que no Ocidente a ciência atingia o seu ponto decrépito, os Árabes, povo sem ciência, entravam repentinamente no cenário geopolítico do Médio Oriente. Em poucas décadas, este povo desconhecido, destrói os grandes impérios que dominam a região e difunde até às fronteiras da Índia uma nova religião. Entre 632, data da morte do profeta Maomé, e 646, o Islão conquista a península arábica, as regiões da Síria-Palestina, a Mesopotâmia e a Arménia, e chega às planícies do Iraque e do Irão. Logo a seguir, é a vez do Egipto ser também conquistado.
O saber astronómico dos Gregos chega aos Árabes. Bagdad, nos séculos IX e X, e o Cairo, nos séculos X, XI e XII, constituem grandes centros astronómicos florescentes. Os trabalhos dos gregos são traduzidos e estudados. O astrolábio é aperfeiçoado e multiplicam-se as observações. São criadas tabelas com os índices dos movimentos astrais, utilizados com fins astrológicos e, sobretudo, marítimos.
Durante os séculos X e XI dão-se grandes progressos na astronomia árabe. Mesmo em 1258, quando Bagdad cai nas mãos das invasões bárbaras dos Mongóis, a investigação astronómica continua e durante a ocupação Mongol são criados novos centros de observação.
A partir do século X a ciência árabe começa a penetrar no Ocidente, nomeadamente Córdoba e Toledo tornam-se centros de estudos astronómicos importantes. Pouco a pouco as obras gregas vão ser traduzidas para latim. O emprego sistemático da trigonometria à astronomia, constitui também uma importante herança deixada pelos Árabes. Um imenso número de estrelas deve a eles o seu nome: Deneb (do árabe Al Dhanab al Dajajah), Aldebarã (Al-Dabarān), Rigel (contracção de Riǧl Ǧawza al-Yusra), etc.
Apesar destes enormes sucessos no domínio das observações e do cálculo astronómico, os Muçulmanos não foram grandes inovadores científicos. Quase sempre os seus trabalhos se desenvolveram dentro da tradição cosmológica herdada da Grécia Antiga.
A ciência astronómica islâmica também teve os seus inimigos políticos: os astrónomos/ astrólogos eram mal vistos à luz do Corão, porque a lei islâmica diz que ninguém, para além de Deus, pode prever o futuro. Por isso os edifícios onde se encontravam os aparelhos de medição da época - planetários, diríamos hoje - foram muitas vezes demolidos.
Mas a cristandade soube recuperar o saber antigo a partir das traduções feitas pelos Árabes, com destaque para a obra de Ptolomeu, “O Almageste” (as traduções árabes chamam-lhe “Al-Magiste” cujo significado é “O Maior.
Foi, portanto, já no fim da Idade Média, por volta do século X, que o Ocidente descobriu nos estudos árabes o saber da astronomia antiga, trabalho este que perdurará até cerca do século XII.
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